quinta-feira, março 22, 2007

Primavera/Vida/Morte

A Primavera costuma ser sinónimo de vida, paixões, retoma de actividade etc…Mas, paradoxalmente, também é época de depressões que por vezes acabam em suicídio.
Normalmente vê-se o suicídio como um acto de fraqueza, mas nunca esqueci uma frase de Dostoievsky, que defende o contrário :

« Não há sofrimento na morte, mas sim no medo da morte. Deus é o sofrimento do medo da morte. Àquele que vencer o sofrimento e o medo será indiferente viver ou não, será ele próprio um Deus e desaperecerá o outro Deus »

Trocando isso por miúdos, e entre outras coisas : só não nos suicidamos por sermos uns ‘cagarolas’ .

Conduzida por este fio condutor, lembrei-me que um efeito secundário dos anti-depressivos é precisamente o aumento de taxa de suicídio nos primeiros 15 dias de tratamento.
Dostoievsky ‘explicava’ assim, de certa forma (leiga), o efeitos secundário dos A.D, antes de existirem :))
Estes facultam coragem ao ser humano para enfrentar a vida , mas também para enfrentar a morte?

Pedir morte assistida, como fez aquela mulher espanhola, seria então coragem ou cobardia?
Parei, revi as minhas verdades e cheguei à conclusão de que a fuga ao presente não invalida a teoria de Dostoievsky….Essa mulher, simplesmente não precisava de mais coragem para enfrentar a dor da morte (assistida) do que para enfrentar a dor diária, já tinha perdido o medo do sofrimento.

Tudo depende então de expectativas de dor e sofrimento…..Na verdade, somos todos refém da dor.

Mas não se preocupem, pelo menos nesse campo somos dos melhores, os números provam o quanto nós somos positivos! ;)

14 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.


Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma


Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.


Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro

Bom fim de semana

23/3/07 12:49 da manhã  
Blogger jotaeme disse...

Pois, para mim a Vida tem um valor não mesurável e porque ainda não consegui ter um "feed-back" lá do outro lado, eu penso que mesmo em situações limite ela (a VIDA) vale sempre a pena!
A Morte física nunca é uma alegria, será apenas em alguns casos um alívio para terceiros...
Nós todos só temos que fazer dia a dia todos os possíveis e impossiveis para que ela se distraia e não nos chame... o resto é resolúvel por nós próprios... e vamos lá a nossa vida!
Bom dia
Jorge madureira

23/3/07 10:17 da manhã  
Blogger Ahlka disse...

Delta, é sempre desconcertante ler o F. Pessoa, acredito que ele tenha criado um Deus dentro de si....A minha filha, quando andava a estudá-lo, costumava dizer que ele devia fumar umas passas, só podia... ;))

Jotabloguer, eu também sou uma 'cagarolas', só gosto do que conheço ;)
Já tive uma situação extrema (longa história de erro médico), 'sabia' que teria poucos meses de vida e nem assim conseguia encarar o facto de ter de aliviar a fase terminal...Simplesmente porque a dor que sentia (confundiu-se um quadro de virose com metástases)não era suficiente para se sobrepôr ao medo. Mas em situações dessas, vemos o mundo do lado de fora, como se de um formigueiro se tratasse...Interessante, mas não o desejo a ninguém :))

Um óptimo fim de semana para vocês :)*

23/3/07 11:17 da manhã  
Blogger Pascoalita disse...

Tema demasiado sério para ser comentado à pressa, razão pq deixo para mais tarde.
Agora apenas fica aqui um sinalito de passagem ... a correr eheheh
1 beijinho

23/3/07 11:43 da manhã  
Blogger Moura ao Luar disse...

Beijos

23/3/07 4:18 da tarde  
Blogger Pascoalita disse...

Tenho dúvidas em afirmar que o suicídio seja um acto de coragem ou de cobardia.

Certamente já todos ouviram alguém referir-se a quem cometeu suicido da seguinte forma:

- "foi preciso coragem!" ou por outro lado alguém dizer:
- "acabava com isto se não fosse um cobarde!"

Pondo de lado os casos de doentes terminais como o que referiste e que de certo modo é compreensível e aceitável (suponho que eu reagiria assim), nas restantes situações em que parece não haver um motivo, se não o facto de se decidir não querer continuar a viver, leva-nos a supor que se trate de mentes perturbadas.

Já assisti de perto a alguns casos destes e nunca cheguei a compreender a "motivação" ou "falta dela". Na verdade o cérebro humano é muito complexo e como tu própria costumas dizer pode surpreender-nos a nós próprios!

Eu já por 2 vezes me senti meia "desligada" do mundo, como dizes vendo o mundo do lado de fora, sem objectivos, completamente desinteressada de tudo!
Da 1ª vez, ainda muito jovem, ocorreram-me essa ideia como solução, mas suponho que não terei chegado àquela fase em que não há retorno.
Conheço alguém que refere sentir por vezes a "tentação de abandonar o barco" mas pelo que percebi, há uma parte da sua mente que até agora tem arranjado sempre estratégias no sentido de impedir a outra parte de ir até ao fim. Um dia provavelmente ...

Através da minha profissão e do que vai sendo noticiado, sabemos que os suicídios estão a aumentar vertiginosamente! Hoje mesmo me passou pelas mãos mais um caso.
Bom fim de semana

23/3/07 10:35 da tarde  
Blogger Adrianna disse...

Por razões que hoje me parecem ridículas, estúpidas, "ninharias" mas que na altura valorizei imenso, por volta dos meus 18 anos, pensei seriamente no assunto!

Uma infância problemática originou uma série de conflitos interiores, que a adolescência fizeram despertar e que acabariam por chocar com uma repentina mudança de hábitos e costumes, a que se seguiu uma série de sentimentos de culpa, rejeição de mim própria, etc.
Após algum tempo de voluntariamente deixar de alimentar o corpo, a débil saúde mental era uma realidade de que eu própria tinha consciência, sabia a causa e desejava-a.
Creio que no entanto não cheguei ao ponto a que chega quem não volta.
Durante esse período, nunca me senti corajosa, pelo contrário ... o minha auto-estima era nula!

No fundo, posso dizer que se tratava igualmente de uma forma de dor a que na altura tentava fugir da pior forma.
Acto de coragem, acredito agora, foi ter enfrentado os meus receios e ter dado a volta à situação :)

Boa noite para ti ... bom fim de semana
P.S. voltarei a este tema

23/3/07 11:06 da tarde  
Blogger Adrianna disse...

Geralmente costumo renovar-me com a chegada da Primavera.
Depois de vários meses em que quase hiberno, sinto-me de repente cheia de vida e energia!
Costumo até dizer que me dá a filoxera e que sou capaz de cometer algumas loucuras (claro que são só ameaças eheheh)

24/3/07 7:29 da tarde  
Blogger Pascoalita disse...

Bom dia :-) Vim só dizer que tou zangada com a "Prima Vera" :(

Boa semana, de novo com tempo chuvoso

26/3/07 7:29 da manhã  
Blogger Pascoalita disse...

Querem ver que a nina Ahlka em vez de esperar que a Primaver se revele, foi atrás de sítios inda mais frios!

Xiççça, não me digas que andas naquelas paisagens todas vestidinhas de branco, onde de vez em qdo te cruzas com uns minúsculos "pingos" de vegetação mal semeada eheheh

Hummm bem me podiam pagar pra um passeio desses! Ospois será que dá pra nos mostrares uma imagem?
Tudo a correr bem
Jinhos

28/3/07 6:51 da tarde  
Blogger Ahlka disse...

Pascoalita, ando numa roda viva, para ver se deixo tudo em ordem...chego o meu momento zen ;)*

28/3/07 8:21 da tarde  
Blogger Pascoalita disse...

Ando a distribuir amêndoas por aí :)

Deixo aqui os meus votos duma Páscoa feliz e renovadora :)

1 Beijito

7/4/07 10:21 da manhã  
Blogger L.S. Alves disse...

Coragem, covardia qual a diferença? A pessoa já se foi mesmo.
Já tive opinião firme sobre o assunto. Hoje em dia não condeno nem inocento, só ressalto que a vida pertence ao dono do corpo. Ele decide se quer viver ou morrer.
É um direito que deveria ser respeitado.

12/4/07 3:26 da tarde  
Blogger Teresa Durães disse...

Muito poderia falar deste assunto. Para compreender é preciso, como dizem os índios, andar três luas com os mocassins de quem passou por uma situação de parasuicída.

Coragem e cobardia são meras palavras. Nem na guerra nem nos dias de hoje representam seja o que for.

e

"Quando eu morrer batam em latas
ergam-se aos saltos e aos pinotes
façam estalar no ar chicotes
chamem palhaços e acrobatas

porque o meu caixão vai sobre um burro
(...)", Mário de Sá Carneiro

12/4/07 8:04 da tarde  

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