Nenhures

Ir para nenhures é ir até ao inimaginável, é lindo.

Mas ser de nenhures é nunca sentir-se em casa, estar sempre de passagem, achar sempre que estaria melhor noutro lugar, o que cria uma eterna saudade do nada.

Embora a citação dum monge Tibetano refira o facto de não precisarmos de 'bagagem' já que estamos de passagem pela vida, pergunto se não serão as raízes dessa 'bagagem' que nos mantêm de pé de forma firme e saudável....

Portugal

A minha cadela adoeceu, resolvi levá-la ao hospital veterinário do Restelo onde acabou por ser internada e submetida a uma intervenção cirúrgica (aproveito para elogiar o serviço deste hospital), vejo a minha vida adiada por 12 dias, tempo que leva a ter alta clínica e mais uma vez dou comigo a pensar que há portugueses de 1ª e de 2ª.
Se quiser um médico, um dentista, um espectáculo, uma exposição, uma revisão ao carro, um hospital veterinário., etc… recorro a Lisboa.
Ninguém consegue viver na província de costas voltadas para a capital, porque simplesmente não há Portugal, Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.
Hoje olho para a grande Lisboa e onde era campo, vejo betão. Lembro da av. dos EUA, ser construída na geração dos meus pais, lembro de ver a ponte 25 Abril ser construída….Ora, se a população de Portugal não aumentou de há 50 anos para cá, essa gente toda que enche esse betão veio da província, cansada de ser o refugo do país, foi-se juntar a elite.
Houve, durante anos um erro logístico. O governo central ao ignorar o interior, foi o tornando cada vez mais ignorável e hoje temos uma pescadinha de rabo na boca.
Proponho a seguinte solução, concentrem em Lisboa e Porto todos o que querem ser portugueses de 1ª e vendam o resto do país aos espanhóis.
Assim, ganham todos, o Estado português ganha liquidez e livra-se de chatices, o espanhol agradece, assim como os portugueses de 2ª.

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler
E não fazer !

Ler é maçada,

Estudar é nada.

Sol doira

Sem literatura

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D.Sebastião,

Quer venha ou não !

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca...

(Fernando Pessoa)

Há dias em que me identifico perfeitamente com este poema... Estudar, aprender, analisar, questionar, compreender...Para quê?
Se temos caminhos fáceis, para quê escolher os mais tortuosos?
Sopas, descanso, fugir ás regras e pequenas coisas da vida também nos trazem felicidade.
Viva a liberdade de ser….só SER, sem ter de construir-se.

Dono de casa

Na sequência de temas abertos noutros blogs, lembrei-me deste texto que fui encontrar guardado algures no sotão do meu pc:

Porque se queixarão as mulheres das lides domésticas se basta um pouco de organização?

Segunda-feira
Sózinho em casa. A minha mulher foi passar a semana fora. Ora aí está uma excelente mudança. Vou passar uma semana inesquecível, só eu.

Delineei um programa e organizei o meu horário. Sei exactamente a que horas me levantar, quanto tempo demoro na casa de banho e a preparar o pequeno-almoço.

Acrescentei o número de horas de que preciso para lavar a loiça, fazer limpezas, ir às compras e cozinhar. Fiquei agradavelmente surpreendido com o muito tempo livre que ainda terei.
Não percebo porque é que as mulheres se queixam da lida da casa se tudo isso exige tão pouco tempo. O segredo está numa boa organização.

Comi um bife ao jantar. Vesti-me a rigor, acendi uma vela e pus rosas numa jarra para criar uma atmosfera aprazível. Bebi vinho e fumei um charuto.

Há muito que não me sentia tão bem.

Terça-feira
Tenho de dar uma olhadela ao meu horário. Uns pequenos acertos.

Ao pequeno-almoço, verifiquei que o sumo de laranja natural tem um inconveniente. É preciso lavar sempre o espremedor.
Alteração possível: - fazer sumo para dias. Assim só tenho metade do trabalho.

Descoberta: posso aquecer salsichas dentro da sopa. Menos uma panela para lavar.

É claro que não pretendo aspirar todos os dia, como a minha mulher queria.
De dois em dois dias é mais que suficiente. O segredo está em andar de chinelos e limpar os pés no tapete da entrada. Quanto ao resto sinto-me optimamente.

Quarta-feira
Tenho a impressão de que afinal a lida doméstica leva mais tempo do que pensava. Preciso de repensar a minha estratégia.

Primeiro passo: comprei um saco de comida rápida. Não tenho de perder mais tempo com cozinhados. É um disparate perder mais tempo com a comida do que comê-la

A cama é outro problema. Primeiro é preciso sair de dentro do edredão, a seguir arejá-lo e por fim fazer a cama. Que complicação! Acho que não vale a pena fazê-la todos os dias, sobretudo porque nessa mesma noite voltarei a deitar-me. Parece-me inútil.

Deixei de fazer refeições complicadas. Comprei algumas pré-cozinhadas.

Quinta-feira
Acabou-se o sumo de laranja! Como é que um fruto aparentemente tão inocente causa tamanha confusão? É inacreditável! Vou passar a comprar sumo engarrafado pronto a beber.

Descoberta: consegui sair da cama quase sem a desfazer. Basta-me depois alisar ligeiramente a roupa. Claro que é preciso uma certa prática, e não me posso mexer muito durante o sono. Doem-me um bocado as costas, mas nada que um bom duche quente não possa resolver.

Deixei de fazer a barba todos os dias. É uma perda de tempo. Assim, também, ganho uns minutos preciosos que a minha mulher, como não tem de fazer a barba nunca perde.

Descoberta: não vale a pena usar um prato lavado de cada vez que como.
Lavar a loiça tantas vezes começa a dar-me cabo dos nervos.
Nota: cheguei à conclusão de que basta aspirar no máximo uma vez por semana.

Salsichas ao almoço e ao jantar.

Sexta-feira
Adeus sumos de fruta! As laranjas são muito pesadas.

Descobri o seguinte: as salsichas sabem bem de manhã. Ao almoço nem por isso. Ao jantar, nem vê-las. Salsichas mais de dois dias seguidos enjoam.

Descobri que posso comer a sopa directamente da panela.
Sabe ao mesmo.. nem tigela nem concha. Assim já não me sinto tanto como uma máquina de lavar a louça.

Já não lavo o chão da cozinha. Irritava-me tanto como fazer a cama.

Nota: acabaram-se as latas. O abre latas fica todo pegajoso!

Sábado
Que ideia é esta de me despir à noite se tenho de voltar a despir-me de manhã? Aproveito mas é o tempo para ficar mais um bocadinho na cama. E também não preciso de colcha, por isso a cama está sempre feita.

Estou a ficar cansado de ser criado de mim mesmo!
Que estranho. De repente, dei-me conta de que é o que a minha mulher me diz às vezes...

Hoje é dia de fazer a barba, mas não me apetece nada. Tenho os nervos em franja. Ao pequeno almoço, só as coisas que não seja preciso desembrulhar, abrir, cortar polvilhar, cozinhar sem misturar. Tudo coisas que incomodem.

Plano: comer directamente do saco em cima do fogão. Nem pratos, nem talheres nem toalha, nem nenhum disparate desses.

Tenho as gengivas um bocado inflamadas. Deve ser a falta de fruta, que é muito pesada para carregar. - se calhar, estou com princípio de escorbuto.

A minha mulher telefonou à tarde a saber se tinha lavado as janelas e posto a roupa a lavar. Desatei a rir meio histérico. Disse-lhe que não tinha tempo para essas coisas.

Há um problema com a banheira. Está entupida com esparguete. Também não estou para me chatear. Não me incomoda muito porque deixei de tomar duche.

Nota: Como directamente do frigorífico. Tem é de ser depressa. Não convém deixar a porta aberta muito tempo.

Domingo
Estou sentado na cama a ver televisão. Vejo pessoas a comer todo o tipo de iguarias. Salivo. estou fraco e rabugento.

Esta manhã comi do pacote de cereais. Não gostei muito.. Precisava de me lavar, barbear, pentear, fazer comida, limpar a casa ir às compras e uma série de outras coisas, mas não arranjo forças. Sinto que estou a perder o equilíbrio e que a vista me está a faltar.

Num último reflexo de sobrevivência arrastei-me até a um restaurante.
Durante uma hora, comi toda a espécie de pratos óptimos. Em seguida, fui para um hotel. O quarto é limpo, arrumado e confortável. Descobri a solução ideal para o governo da casa.
Não sei se a minha mulher já se terá lembrado disso.

(adaptação do texto "Diário de um dono de casa" - autor desconhecido

Águas de Cascais

Há uns dois anos, mais ou menos por esta altura, reparei num débito de cerca de 1600€ na minha conta bancária, dei algumas voltas antes de descobrir de que se tratava duma conta de água.
Já com a factura na mão, reparei que nem com o cano de alimentação a debitar a 100% conseguia chegar a tal cubicagem, verifiquei então que tinha havido um erro de leitura, alguém tinha esquecido a importância duma vírgula.

Telefonei para ‘as águas de Cascais’ que prontamente enviaram um ‘especialista’ em leituras. Este, deu-me toda a razão justificando que alguns colegas não sabiam que os números vermelhos eram decimais, havendo assim uma multiplicação do meu consumo pelo menos por 100.
Pensando que tinha o assunto resolvido, aguardei, aguardei,…. ainda paguei mais uma conta normal e nada de crédito. Chegou assim a data duma nova conta com leitura efectiva (bimensal), onde continuavam a aparecer os números decimais como unidades.
-« desta vez tem sorte»- disse-me a funcionária, «porque o erro desta factura é só de 380€.»
Nesse dia estalei o verniz, questionando o método de trabalho, que ignora a ordem de serviço e respectivo relatório, que levaram um funcionário a deslocar-se a um determinado local para nada. Incompetência ou má fé ?
Como já tinham passado 4 meses comecei então a ligar quase diariamente, obtendo as respostas mais diversas e disparatadas:
- «A nota de crédito tem de ser associada a uma factura» , Aceitei a explicação, mas na factura seguinte, voltou a não aparecer a nota de crédito.
Mês seguinte:
- «Não foi associada a esta factura porque tivemos problemas informáticos». Mais uma vez aceitei…
Mais um mês:
-«A N.C tem de ser associada a um mês com leitura efectiva do contador»
……
Até que recebi a nota de crédito de 380€, mas não a de 1600€ , que até era mais antiga.
Novo telefonema :
-«Garanto que ambas as notas de crédito foram emitidas, aguarde pelo seu saldo»
Mês seguinte
-«Pois de facto, tem razão, foram ambas emitidas, mas a impressora avariou, vamos regularizar a situação»
Aí perdi a compostura, já tinham passado 6 meses e a impressora avaria logo na minha N.C de valor superior??? Vou esperar mais dois meses por uma factura com leitura???‘Tá’ a gozar com a minha cara???

Desloquei-me então ao local, onde , depois de várias reclamações minhas (entre as quais a ausência do livro azul, penso que obrigatório em organismos públicos) , foram chamados uns quantos ‘superiores’ que me sugeriram escrever uma carta a administração.
Perguntei, «Para quê? Para ter o mesmo destino da minha nota de crédito?»
«Está a sugerir má fé por parte da administração?»
«Não estou a sugerir, estou a AFIRMAR!, tenho registados todos os telefonemas, nomes de quem falou comigo, justificações dadas, e quero JÁ o meu reembolso ou vão-se arrepender de um dia se terem cruzado comigo…»

Resumindo, naquele dia pus tudo a mexer, saí de lá , ao fim de nove meses e depois de ameaças legais, com as meus 1600€ em notas porque não podiam, diziam eles passar cheque.

Na altura, não me quis chatear mais, fiquei satisfeita por conseguir reaver o que era meu, mas hoje quero aproveitar esse veículo que é a net. Quero que todas a pesquisas por ÁGUAS DE CASCAIS’ incluam este texto.
Ainda hoje estou convencida de que foi usado o meu dinheiro e com certeza de outros habitantes da zona para tapar algum buraco contabilístico, porque lendo com atenção, verão que não paguei 2 contas de 1600€, só uma, logo havia consciência interna do acontecido……

Eu até nem sou vingativa….. ;))

.